24 de November de 2021

Reflexões: Consciência Negra e Humanismo Soka

“Comunhão de raças, Convivência humana, Sonho da democracia racial (...)” (verso do poema Brasil, seja monarca do mundo!, de Daisaku Ikeda)

Thiago e Marcos: reflexões com os devidos "lugares de fala"

No dia da Consciência Negra, cabe a todos nós fazermos uma reflexão sobre os diversos aspectos envolvendo esse tema. Nesse texto trazemos as reflexões de dois integrantes da BSGI sob a ótica da filosofia humanista do budismo Nichiren. A premissa máxima de toda a SGI: o respeito absoluto à dignidade da vida de todos os seres humanos, sem distinção. A epígrafe que abre esse texto é um desejo, um ideal, algo almejado e cultivado no coração de cada integrante - Budas em essência! - e que rege o comportamento e os valores do movimento humanista da Soka Gakkai.


Quem tem amigos afrodescendentes já deve ter presenciado ou ouvido por algum deles, um caso de discriminação. O carioca Marcos Antonio Nunes da Natividade, tem 64 anos e é budista há 46 anos. É administrador escolar de uma das maiores universidades públicas do país e vice-presidente da BSGI. “Sou funcionário público administrativo de uma grande faculdade do Rio de Janeiro. Quando as pessoas de alto escalão e vários títulos, tiveram que tratar alguma diferença administrativa, percebia um desconforto por eu ser negro ”, contou Marcos. Ele disse que desde pequeno sofria com o preconceito. Infelizmente, é uma realidade comum à maioria dos afrodescendentes no Brasil. O mesmo se deu com o também carioca Thiago de Oliveira Thobias, de 39 anos, sociólogo, nascido numa família budista e foi vice-coordenador do Núcleo Masculino de Jovens da BSGI.


Thiago contou que por volta dos 9 anos, uma professora estava escalando o elenco de uma peça de teatro e pediu para que os alunos indicassem o príncipe. “De cara, uma coleguinha disse que eu e mais dois amigos pretos estavam de fora, pois não existia príncipe preto. Fiquei indignado, pois ali eu já sabia que, antes da escravização nas Américas, nossos ancestrais eram africanos soberanos, reis e rainhas em África. Mas ao mesmo tempo me recusei a fazer parte daquilo, pois não queria mesmo me enquadrar naquela imagem de príncipe que todos tinham ”, reagiu Thiago.


Empoderamento do humanismo Soka


Assim como Marcos, Thiago buscou empoderar-se para melhor compreender as injustiças e também descobrir a forma mais efetiva de lidar com elas. Ambos declararam que uma das coisas que os auxiliou a compreender foi o estudo do Budismo Nichiren, promovido em todos os encontros e demais atividades da BSGI.


“Foi na organização que, aos poucos, aprendi a lidar com o preconceito, inclusive os meus próprios, pois sempre foi muito difícil para eu entender”, explicou Marcos. Já o jovem Thiago preferiu seguir o caminho da academia. “Estamosndo a 4ª geração de budistas em nossa família. Talvez essa seja nossa maior conquista. Mas, individualmente, minha principal vitória é estar cursando o doutorado em Ciências Sociais, pois meu juramento da juventude foi seguir a carreira acadêmica como Sociólogo e, em 2030, no centenário da Soka Gakkai, me tornar um dos principais intelectuais do meu campo e da minha geração ”, enfatizou.


Marcos ressaltou também que nesses 46 anos de prática budista teve a oportunidade de ir ao Japão cinco vezes. “E, num encontro, tive a grande oportunidade de participar de um jantar, onde fui homenageado pelo presidente [ Daisaku ] Ikeda”, contou. Nesse evento, o anfitrião tocou seu ombro e solicitou a ele que, ao retornar ao Brasil, cuidasse dos jovens membros. Incumbência que Marcos vem realizando diariamente até hoje.


Marcos enfatizou que na filosofia do budismo Nichiren, existe um humanismo fundamental no qual as pessoas são o objetivo. “A essência do budista é sustentada na fé no ser humano tendo como compromisso o diálogo, independentemente das questões de raça”. Ele compreendeu que o humanismo budista se baseia no potencial de cada pessoa para realizar sua revolução humana cultivando sua natureza de Buda.


 Protagonismo e superação


Thiago contou que “foi criado nos jardins da Soka Gakkai”. Desde criança compreendeu o quanto a filosofia humanista do budismo lhe auxiliaria enormemente a superar os desafios. Sua avó que também era budista, mas não teve a oportunidade de ser alfabetizada. Thiago lia os Escritos de Nichiren Daishonin e as orientações do presidente Ikeda para ela. “Eu via emoção e alegria em seus olhos ao ouvir cada palavra. E também via o esforço dos meus pais em criar uma referência do budismo em minha vida ”. Atualmente, em suas pesquisas no doutorado, ele busca se concentrar no pensamento social brasileiro, se inteirando das ideias dos intelectuais negros e como estes influenciam como interpretações do Brasil. “Faço também análises de conjuntura social e política com base em pensadores, que vem sendo humilde há muito pouco tempo”, completou.


Outro ponto ressaltado por Thiago e que o ajudou a enxergar o protagonismo de sua origem, foi a referência num dos escritos do presidente Ikeda de que “o século XXI é o século da África” [i] . “Houve um momento da minha vida em que busquei todas as orientações do presidente Ikeda sobre a África e os diálogos com líderes africanos. É impressionante a profundidade da compreensão dele em relação à negritude e à riqueza cultural africana. Ao afirmar que o século XXI é o século da África, Daisaku Ikeda confere protagonismo a todos os africanos e africano-descendentes ”.


Por fim, Marcos endossa sua mensagem de que “cabe a nós tornar realidade esse ideal”. Ele acredita que uma ideia de um mês inteiro voltado à consciência negra, contribui com a inclusão social e acaba auxiliando para que mais e mais pessoas abram os olhos para as dificuldades e impedimentos impostos pelo preconceito. “O ser humano é dotado com o potencial universal da vida e capacidade de manifestar essa força em suas ações. Portanto, é fundamental que nossas atitudes sejam humanas. Quando deixamos de agir com humanismo, esse potencial não se manifesta ”, finalizou Marcos.


“Gostaria de voltar à questão de como eu lido com o preconceito. Pela cultura e pela educação. A luta antiracista e pela igualdade racial é uma luta política. E, política antes de tudo, é destino. Nossa democracia está em crise ... Mas a democracia budista propõe que todos são, igualmente, budas em potencial! Para mim, consciência negra é consciência de bodisatva da terra [ii] !!! ”, Encerrou Thiago.


 


 


 






[i] Há várias fontes, mas o destaque vai para o ensaio “Nossa calorosa família Soka” (jornal Brasil Seiko ed. 2029 de 03/04/2010, p. A3, Ensaio), em que o presidente Ikeda afirma que “Se a África não se tornar um 'Continente de Felicidade', a paz global não será concretizada ' .


 [ii] Na palavra “bodisatva”, “bodi” significa “sabedoria do Buda”, e “satva”, “seres humanos” e “valor”. Neste estado de vida, a benevolência supera o egoísmo, e a pessoa se dedica ao bem-estar e à felicidade das pessoas. Um bodisatva é uma pessoa altruísta, alguém que se preocupa e ajuda as pessoas sem esperar nada em troca.




 



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